Beastars e suas críticas sociais
- mariaeduardaxcastr
- 5 de abr.
- 5 min de leitura
Olá, queridas girl bloggers, sentiram minha falta? Espero que sim, porque eu voltei com muito conteúdo para compartilhar! Fiquei afastada do blog por um bom tempo, mas agora estou de volta para ficar. E já que estou aqui, essa é a oportunidade perfeita para conversarmos um pouco sobre temas importantes como sociedade, racismo, hipersexualização, papéis de gênero, políticas discriminatórias e xenofobia. Como vocês podem ver, o título do post é sobre o anime japonês Beastars, que foi desenvolvido a partir do manga escrito e ilustrado por Paru Itagaki. Vocês provavelmente devem estar se perguntando: como um simples anime sobre animais poderia ter algum tipo de crítica social? Bom, neste post nós vamos analisar e aprofundar nas críticas geniais de Beastars e em como elas espelham a nossa sociedade.

O ENREDO DE BEASTARS:
Beastars é um anime criado a partir de um manga, como mencionei anteriormente. O manga foi publicado entre 2016 e 2020, e logo depois recebeu uma adaptação em anime produzida pelo estúdio Orange, com a primeira temporada estreando em 2019.
A história se passa em uma sociedade onde animais herbívoros e carnívoros vivem juntos. Mas, essa convivência é cheia de falhas e conflitos, e diversos problemas surgem. O protagonista, Legoshi, é um lobo cinza que luta contra seus próprios instintos carnívoros. Ele estuda na Academia Cherryton, onde ocorre o assassinato misterioso de um herbívoro do clube de teatro, do qual ele faz parte. Esse evento aumenta ainda mais o preconceito entre as espécies. Durante o anime, Legoshi se apaixona por Haru, uma coelhinha branca, o que o faz ele questionar se seus sentimentos são realmente amor ou apenas seus instintos predatórios. Beastars aborda temas sérios sobre a sociedade, e tudo isso é mostrado de forma metafórica e profunda.
BEASTARS E O RACISMO:
Em Beastars, é possível identificar um forte preconceito contra os carnívoros. É nítido como o anime faz referência ao racismo e a xenofobia. Os animais são divididos por uma separação “natural”, mas essa divisão acaba sendo usada como justificativa pra controlar os carnívoros mesmo que muitos deles não sejam violentos. É como se a biologia fosse usada como desculpa pra políticas discriminatórias, da mesma forma que o racismo tenta se legitimar por meio de “diferenças genéticas” e da forma como a sociedade enxerga pessoas racializadas como violentas ou perigosas. O medo coletivo que a sociedade tem dos carnívoros ecoa o medo irracional que grupos marginalizados enfrentam o tempo todo.
A LUTA DAS MULHERES RACIALIZADAS CONTRA O RACISMO:
Um exemplo explícito de racismo que percebi no anime é como a Haru, uma coelha branca, e a Juno, uma loba cinza, são duas mulheres, mas todos os homens querem proteger a Haru por ela ser vista como uma coelhinha frágil e indefesa. Vejo nisso um reflexo de como, muitas vezes, mulheres racializadas são demonizadas e não recebem o mesmo cuidado que mulheres brancas. Lembro do Legoshi dizendo para a Juno a seguinte frase: “Você é forte demais pra ser uma donzela em perigo. Na verdade, você é até um pouco masculina.” É como se mulheres de cor fossem tratadas como “masculinas” ou inferiores às mulheres brancas. Na nossa sociedade, mulheres racializadas são frequentemente vistas como “fortes demais” ou “duronas”, e por isso não recebem o mesmo tipo de afeto, delicadeza ou proteção. Esse pensamento de que mulheres negras, indígenas e racializadas em geral são "fortes" ou "masculinas" tem raízes profundas na história da colonização e da escravidão. Todo esse contexto histórico moldou a forma como a sociedade enxerga essas mulheres até hoje. Enquanto a mulher branca era vista como feminina, delicada e pura, as mulheres racializadas eram demonizadas e desumanizadas. Quando estava estudando mais a fundo sobre o racismo, me deparei com uma frase da filósofa Angela Davis em seu livro Mulheres, Raça e Classe (1981). que me impactou muito: “As mulheres negras foram excluídas do ideal de feminilidade. Eram vistas como seres de força bruta, com corpos que podiam ser explorados impunemente.” Essa frase faz total sentido quando observamos a realidade vivida por tantas mulheres negras ainda hoje. Em minha perspectiva, o anime conseguiu mostrar muito bem como certos grupos de mulheres são reprimidos na sociedade, justamente por não atenderem aos padrões de como uma mulher deve ser, padrões que foram historicamente criados pelo colonialismo.

HIPERSEXUALIZAÇÃO:
A hipersexualização é um tema muito importante para se abordar ao analisar o anime. Um bom exemplo para discutir esse tópico é a coelha Haru. Ela é constantemente vista pelos outros personagens como um objeto sexual. Na minha perspectiva, a hipersexualização da Haru também pode ser entendida como uma crítica social as expectativas colocadas sobre as mulheres, especialmente as mulheres jovens e sexualizadas, que muitas vezes são julgadas apenas pelo corpo e aparência, sem que suas histórias e experiências sejam reconhecidas. Isso se conecta diretamente com a maneira como as mulheres são tratadas na sociedade, onde a sexualidade e a beleza frequentemente se tornam os únicos aspectos valorizado. Ao longo do anime, vemos que Haru não se resume à sexualidade, e entendemos que ela apenas se comporta dessa forma não porque quer atenção superficial. Ela faz isso porque, naquele mundo, ser desejada é a única forma de ser percebida como alguém com valor. Ela é pequena, frágil, e vive numa sociedade em que isso a torna invisível, até que se torna objeto de desejo. O que muitos chamam de "promiscuidade" é, na verdade, uma tentativa desesperada de existir, de ser validada, de não ser esquecida. No anime, ninguém tenta entender a Haru, eles apenas a julgam, sem se colocar no lugar do outro. Isso é um grande exemplo de como a nossa sociedade trata mulheres. Muitas pessoas odeiam a personagem por não compreenderem sua profundidade, sem perceber que seus comportamentos são uma resposta ao ambiente opressor criado pela sociedade patriarcal. É mais fácil colocar a culpa na mulher oprimida e não no sistema opressor.
Bom, girl bloggers, nós finalmente chegamos ao final do post, e escrever sobre isso me fez enxergar a sociedade, o racismo e a hipersexualização com outros olhos. Espero que, de alguma forma, também te faça pensar diferente. Antes de ir embora, eu queria deixar uma mensagem pra vocês:
o racismo está nas pequenas ações. Usar termos pejorativos como "cabelo ruim" para se referir a pessoas negras é uma dessas atitudes. É a partir dessas falas que todo mundo considera inofensivas que o racismo se constrói e se espalha. Então, a reflexão que eu quero deixar hoje é bem clichê: se coloque no lugar do outro indivíduo. As vezes, a gente só enxerga um problema quando ele nos afeta, e acaba não pensando no coletivo. Mas são justamente as pequenas ações que mudam uma sociedade.
Eu espero que vocês tenham gostado desse post. Um grande beijo, meus anjos!!! ♡

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